sábado, 16 de maio de 2009

Pragmática e Poesia


Quando falo em poesia e penso em pragmática tenho um problema. Então como posso definir uma poesia em pragmática? A poesia/poema é heurística, política ou estética?

O que percebi foi a necessidade de delimitar o termo poesia a sua disciplina teórica poética, porque lembro de poesias com, No Meio do Caminho de Carlos Drummond de Andrade



No meio do caminho tinha uma pedra

tinha uma pedra no meio do caminho

tinha uma pedra

no meio do caminho tinha uma pedra.


Nunca me esquecerei desse acontecimento

na vida de minhas retinas tão fatigadas.

Nunca me esquecerei que no meio do caminho

tinha uma pedra

tinha uma pedra no meio do caminho no meio do caminho

tinha uma pedra


Mas quando leio Navio Negreiro de Castor Alves



[...]


V
Senhor Deus dos desgraçados!

Dizei-me vós, Senhor Deus!

Se é loucura... se é verdade
Tanto horror perante os céus?!

Ó mar, por que não apagas

Co'a esponja de tuas vagas De teu manto este borrão?...

Astros! noites! tempestades!

Rolai das imensidades!

Varrei os mares, tufão!


Quem são estes desgraçados

Que não encontram em vós

Mais que o rir calmo da turba

Que excita a fúria do algoz? Quem são?

Se a estrela se cala,
Se a vaga à pressa resvala

Como um cúmplice fugaz,
Perante a noite confusa...

Dize-o tu, severa Musa,
Musa libérrima, audaz!...


São os filhos do deserto,

Onde a terra esposa a luz.

Onde vive em campo aberto

A tribo dos homens nus...

São os guerreiros ousados

Que com os tigres mosqueados

Combatem na solidão.
Ontem simples,
fortes, bravos.

Hoje míseros escravos,
Sem luz, sem ar, sem razão. . .


São mulheres desgraçadas,
Como Agar o foi também.

Que sedentas, alquebradas,
De longe... bem longe vêm...

Trazendo com tíbios passos,
Filhos e algemas nos braços,

N'alma — lágrimas e fel...
Como Agar sofrendo tanto,

Que nem o leite de pranto

Têm que dar para Ismael.


[...]



Fico boquiaberto por que é fascinante ver um homem que se preocupa com a justiça social que a o regime escravocrata proporcionava. E vendo isso ele denuncia essa injustiça e questiona até mesmo ao divino o porquê disto. Eis ai a poesia como política.

A poesia/poema que tanto mexe com nosso ser, que tem a capacidade de nos comover assume uma característica política quando ele critica sistemas, pessoas, órgãos, regimes e etc.

A poesia/poema não opera somente nestes dois campos pragmáticos, mas também no campo da heurística, porque por meio da poesia/poema podemos aprender sobre o mundo (mais ainda quanto ao individuo que por sua vez faz parte do mundo é um mundo em si), ou seja, heurística.

Hoje a poesia/poema está nestes três níveis pragmáticos – Heurística, Política e Estética. Como iniciante na leitura de Edgar Morin arriscaria a dizer essa é a complexibilidade da poesia.



A todos, Liberdade de Consciência!


Pierre Mattos

2 comentários:

Peroratio disse...

Manda ver, Pierre. Mas atenção: heurística é método - sempre.
Um abraço,
Osvaldo.

Pierre Mattos disse...

Olá!

Osvaldo, obrigado pela dica.

Então fica aos leitores essa obervação no texto.

Abração