quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Vestígios da Teologia Deuteronomista


“A Teologia influenciada pela retribuição é norteada pela barganha. Quanto mais DOO, mais TENHO, quanto mais FAÇO, mais POSSUO. Desta forma, fica difícil enxergar a atuação da graça de Deus se movimentando na história da humanidade. Deus não está preso em um esquema de retribuição” Felinto Faria Neto




Muitos sabem o que é teologia, mas nem todos sabem o que é Teologia Deuteronomista.
A Teologia Deuteronomista foi pregada pelos sacerdotes de Israel e Judá durante todo o judaísmo antigo.
A base está no livro de Deuteronômio 28 é também conhecido como Teologia da Retribuição, como será muitas vezes chamada neste texto.

O texto de Deuteronômio 28 mostra-nos as bênçãos e/ou as maldições de Yahweh que virão sobre aquele que praticam ou não as suas leis.

De fato o texto é base para judeus de várias épocas. E essa Teologia foi defendida pelos sacerdotes de Israel em seus pronunciamentos e criticada por sábios do antigo Israel.

“... Todavia, se não obedeceres à voz de Yahweh, teu Deus, cuidando de pôr em prática TODOS os teus mandamentos e estatutos que hoje te ordeno, todas essas maldições virão sobre ti e te atingirão...” Deuteronômio 28,15.

Esse texto muitas vezes foi usado para julgar pessoas e taxá-las como pecadoras, ou impuras, somente por estarem sofrendo de/por alguma enfermidade.

Como exemplo:

Os sacerdotes pegam o texto de Deuteronômio 28,22 “Yahweh te ferirá com tísica e febre, com inflamação, delírios, secura, ferrugem e mofo, que te perseguirão até que pereças” e dizem que uma pessoa que está com febre por causa de um dente está em pecado, lembremos que não havia dentistas em Judá ou Israel com as qualificações de hoje, século XXI, e nem COLGATE 12. (Risos).

Se uma pessoa estivesse doente por qualquer causa isso era sinal de que ela não cumpriu a lei e por isso Yahweh está castigando-a.

Mas, se você cumprir a lei... As bênçãos de Yahweh virão sobre você e “sereis benditos no campo a na cidade” Deuteronômio 28.3

“Quem faz o bem, tanto a Deus, quanto ao próximo, será contemplado com todas as bênçãos”
Muitos “pobres” foram oprimidos por causa deste discurso, pessoas, que tinham pouco grau de instrução, facilmente, eram infectadas em Israel e as autoridades judaicas designava-os como impuros, pecadores.

A Teologia da Retribuição é um jogo de política com Yahweh, pois se você for “bonzinho” ele te abençoa, mas se você for mal vai se dar mal nas mãos de Yahweh. Essa Teologia coloca Deus como uma criança mimada que quer que sejam feitas as suas vontades.
Hoje, existem duas correntes ideológicas que lembram essa teologia, não com tanta forma como a da retribuição na sociedade judaica.

Uma delas é a que diz: - Se você está em pecado o seu corpo sofre com doenças, ou seja, a doença é o reflexo do pecado na vida das pessoas.

A outra, é a Teologia da Prosperidade que na verdade tirou a obediência às leis e estatutos de Yahweh e começou a dizer que se você fizer votos, pactos, acordos, com ele, ele te retribuirá.
A primeira está ligada a Deuteronômio 28,22 e a segunda a Deuteronômio 28,3.

Com o sofrimento do povo, sábios de Israel levantam-se para criticar essa teologia e assim surgem textos/livros como Jó para explicar que mesmo sendo um “homem justo e integro que igual não há na face da terra” (Jó 2,3b) ele sofre mesmo assim e por isso não depende da obediência a lei, porém ao foto de estar vivo e depois Eclesiastes faz a mesma crítica.

“A literatura do Eclesiastes e de Jó abordam a temática de uma Teologia retributiva, sendo a crença de que todas as ações humanas recebem, sem exceção, uma resposta e/ou ação de Deus. Se o individuo pecou ele receberá em vida e/ou sua descendência a punição devida de seus pecados” Felinto Faria Neto
Assim como os sábios de Israel devemos desmascarar estas “falsas” teologias que nos cercam e temos que mostrar que Yahweh é SOBERANO.



Fique com a consciência livre para comentar....

A Todos, Liberdade de Consciência!
Pierre Mattos

9 comentários:

Pedro Leal disse...

Parabéns, Pierre!

Legal esse seu texto!

Continue escrevendo sempre, gosto ler o que escreve e ouvir as suas idéias!

Abrção

Luiz Gustavo Silva disse...

Muito bom o texto! conheça meu blog tmb igrejainclusiva.blogspot.com

João Neto disse...

Interessante o seu texto. Inclusive com uma citação confessional e ortodoxa do grande teólogo puritano Felinto Faria Neto, grande amigo!!! rs...

Mas, um detalhe que as pessoas se esquecem é que a Teologia Distributiva de Deuteronômio 28 foi algo específico para aquele contexto e refere-se ao povo de Israel enquanto nação e não individualmente.

Se Israel observasse os caminhos de Deus, teria prosperidade diante de outros povos. Não para Israel ser superior, mas para testemunhar. Isso não quer dizer que se um indivíduo fizesse tudo certo, necessariamente teria que não ter nenhum problema.

Outros livros da Bíblia não criticam a Teologia Retributiva não. Isso é o equívoco de quem lê essa teologia como se fosse para indivíduos. Eclesiastes e Jó falam de máximas para pessoas individuais enquanto Deuteronômio fala para Israel enquanto povo.

Mas, parafraseando o grande teólogo Liberal, John Pipper, estamos buscando Jesus pelo que Ele é ou pelo que Ele pode fazer?

Ops... acho que troquei a descrição do Felinto com a do John Piper... rs...

Pierre Mattos disse...

João,

Realmente outros livros nãp fazem críticas a essa teologia.

Agora, esse livros não teriam a "mão-sacerdotal" em sua formação?

Enquanto Jó e Eclesiastes tiveram mais a influencia das mãos dos sábios.

Qual a sua base para dizer que a Teologia da Retribuição é Nacional e não Individual???

Abraço

João Neto disse...

A minha base é o contexto. É só ler o texto inteiro.

Mão-sacerdotal não existe. Isso é Anacronismo, um pecado sério para a História. Anacronismo é você colocar na cabeça de alguém que viveu na Antigüidade um pensamento de hoje. Dessa forma, o que a Teologia Liberal faz é colocar o pensamento revolucionário da Revolução Francesa no povo de Israel. Mas eles não tinham esse tipo de questionamento. O homem da Antigüidade acreditava de verdade e não tinha coragem de alterar um texto sagrado. Assim como você me falou que a ortodoxia é uma fuga para quem não tem resposta, essa de “inserção” também é uma boa fuga.

Infelizmente, aqui no Seminário ainda se usa esse tal de método histórico-crítico ultrapassado. Lá na UFRJ estamos lendo Peletier: “Bíblia e Hermenêutica Hoje” da Loyola, é uma indicação que eu faço... mas como ele é novo e moderno, não tem aqui na biblioteca... tem que procurar fora ou comprar...

Pierre Mattos disse...

Joazinho,

Você sabe que todos quando leem um texto aplicam uma corrente ideologica e você está fazendo a mesma coisa, então o texto não é tào claro como você diz ser.

Isso não é anacronismo... Até pode ser uma DIACRONIA, não quero colocar a cabeça de ninguem nada, muito menos os ideais da Revolução Francesa.

Poxa, se o Método Histórico-Crítico é tão ultrapassado assim porque a PUC-RIO um modelo, até mesmo considerada melhor que a UFRJ, por alguns, continua usando-o?

E mão-sacerdotal existe porque quem escreve é um sacerdote queira você ou não, talvez você diga que esse sacerdote foi até mesmo inspirado por Deus e etc...

Ah, me mostre onde eu coloquei pensando da Revolução Francesa na cabeça de alguém.

Abraço

Viviana Carolina Mendez Rocha disse...

Bom, Pierre é um bom discipulo do Osvaldo sem duvida...
gostei do texto, ele traz um tema que nao ficou relegado à teologia da retribuiçao de Israel, mas q veio aos nossos dias sob forma dessas pragas de teologia da prosperidade e afins. Todas sao deturpaçoes das Escrituras... com isso de liberdade de interpretaçao qualquer filho de vizinho pode fazer a Biblia falar o q ele quiser!

Osvaldo Luiz Ribeiro disse...

Ora, ora, viva!, discussões sobre método... João já se sente à vontade para desancar o método histórico-crítico! Que bom. Hoje, tanto as crianças quanto os jovens aprendem mais depressa! Na minha época, demorava-se alguns anos para se dominar uma técnica e, então, poder-se falar sobre ela, de bom e de mau. É a tal da evolução hormonal - muito hormônio de vaca na carne que a gente come, aí vão nascendo super-gênios e crianças e jovens precoces...

Quanto a mim, ainda não encontrei em nenhum lugar nada que seja comparável ao método histórico-crítico (com seus necessários desdobramentos histórico-sociais e seus refinamentos complexos). Tornei-me professor de Epistemologia, Hermenêutica e Exegese, e, contudo, nesses três campos, nenhuma crítica ao método histórico-crítico (e seus desdobramentos, tem fundamento). Leio e li tudo o que é crítica a esse método, de Zabatiero a Nicodemus, de Vattimo a Habermas, e meu veredicto é um só: improcedente, no campo histórico, e impertinente, no campo paradgmático.

Contudo, se você suspende a materialidade da história, e a verificabilidade metodológica, todo o esforço é estético (e/ou político!), logo, sem qualquer laivo de procedência ou improcedência, tudo é certo e legal, um oba! oba! gelatinoso, em relação ao qual basta citar meia dúzia de termos aparentemente inteligentes, ou um calso de fé, e pronto.

Onde, contudo, impera o método histórico-crítico, a abordagem histórico-social, o olhar fenomenológico-religioso, ou você, primeiro, aprende a usar as ferramentas, ou é melhor ir ao cinema.

João, antes de apressar-se em criticar o que você não domina ainda, deveria gastar algum tempo aprofundando sua formação. Muito cedo, ainda, para veredictos, não?

Um abraço,

Osvaldo Luiz Ribeiro

Eliel Pinho Gonçalves disse...

Nem tanto para jogar pedra, nem tanto para corroborar o pensamento do João Neto, mas acredito que ele tem razão em um ponto, pelo menos. Eu não saberia analisar isso profundamente, como nosso professor Osvaldo o faria; entretanto, em nossa análise superficial o texto fala mesmo de Israel como nação, embora saibamos que o indivíduo se apropria do mesmo pensamento. Por outro lado, João, esse pensamento da Retribuição divina não influenciou o homem daquele período apenas. Essa ainda é uma visão turva, um olhar míope, comum em nossos dias, especialmente nas igrejas cristãs e religiões de modo geral. Não há dúvidas também de que a cultura influencia determinantemente nosso pensamento, nossos textos, músicas, pregações etc. Só que, é apesar de tudo isso, mesmo com todas as discussões positivas sobre a exatidão do pensamento dos autores bíblicos, a dimensão do mistério parece ser infindável. Teorias vão e vêm, mas nós continuamos dando voz à tal "loucura da pregação", pois para nós ela é um legado de jesus e dos profetas. Isso parece ser o que vai em nosso coração, mas não acredito tenhamos chegado a veredito final, pelo menos por bases científicas, do que é voz de Deus e voz de homem através dos tempos. Talvez isso se dê apenas na minha inocência, caso contrário, apenas quem se crê dono da razão poderia afirmar contundentemente o propósito exato do autor do texto discutido aqui.