sábado, 2 de agosto de 2008

Dercy Gonçalves! Porra louca mamando no seio de Abraão


Por Joevan de Mattos Caitano (Joeblack)



Sábado dia 19 de julho de 2008 morreu Dercy Gonçalves. Como relatava as antigas mitologias gregas, o universo é um Deus que gera e depois engole os seus próprios filhos. Edgar Morin assinalava que a natureza é mãe e assassina ao mesmo tempo. Ela se foi, mas ficou a história que ela construiu com muita luta, determinação e humor para dar e vender. Nosso povo é muito sofrido, fudido desde a colonização portuguesa, por isso, precisa (va) (rá) de alguém engraçada como ela para aliviar um pouco nossas dores, pois o riso faz a vida se tornar mais linda mais cheia de graça.


O que eu mais achava engraçado na Dercy é que ela era doida, falava o que pensava, e a galera ouvia e batia palmas. Ela verbalizou publicamente em umas de suas aparições: “Antigamente eu falava as mesmas merdas e diziam que eu era boca suja, no entanto, hoje eu falo as mesmas coisas e as pessoas me aplaudem e diz que o que falo é CULTURA”. Lembrei-me de uma das aulas de filosofia sobre Deleuze, em que o professor Roberto Machado mencionou sobre esse fenômeno que são as fases da nossa vida e a mutação do modo de pensar das pessoas. Hoje a gente pensa de um jeito, amanhã a gente está pensando de outro. O que era profano se torna sagrado, e vice-versa. Até a idéia da imutabilidade (perfeição) de Deus que o cristianismo copiou de Platão e Aristóteles, é questionável. A nossa mente muda e consequentemente, a nossa perspectiva e prospectiva sobre Deus também vai mudando e a gente nem percebe, e quando percebemos, já estamos no jogo do devir. A “essência” de Deus depende ponto de vista do observador. “Observamos e somos observados o tempo todo, recebemos inúmeras influências de caráter multidirecional”, afirmou a pianista e professora Stella Júnia em um de seus concertos. Somos marionetes da mutabilidade. Deus é burro de carga das mutações (se liga). Somos vítimas dos encontros revolucionários, e feliz é aquele que se depara (rou) com esses encontros (como o apóstolo São Paulo que teve um encontro com Deus, Nietzsche mudou o rumo e pirou quando leu o O MUNDO COMO VONTADE DE REPRESENTAÇÃO de Schopenhauer, e outros).


Dercy sabia dessa força mutante das coisas, das mentes, e não se intimidou, mostrou suas várias caras, ela como todos nós, somos uma coisa e outra como escreveu Carl Jung (persona, sombra, anima, animus, self). Somos machos e fêmeas, somos divinos e diabólicos, possuímos ferocidade e ternura, somos papai noel e pitbull dependendo da situação.


Em Dercy, o que fez a grande diferença foi sua principal marca: A PERSONALIDADE. Virou um celebridade, respeitada por todas, com um senso de humor singular. Mulher pobre, mas que ralou muito na vida, e foi velada num palácio. Isso foi possível graças a determinação, perseverança, dedicação, pois acreditava em si mesma e nas palavras do mártir Jesus. Ela ouvia diariamente as palavras de sua mente dizendo: SEM MIM (amor a si mesmo), NADA PODEIS FAZER (SE VOCÊ NÃO ACREDITAR EM VOCÊ MESMO NADA PODEIS FAZER. PARA QUE OS OUTROS ACREDITEM EM VOCÊ, É PRECISO QUE VOCÊ ACREDITE EM SI MESMO. Se liga! Se você acreditar em você mesmo, até Deus pode acreditar em você.


O que mais me chamava a atenção na Dercy era a força da sua personalidade-singularidade. Personalidade-singularidade é algo que você tem e que você pode inserir (é uma marca), que vai se propagando e ganhando força e confiança com o passar do tempo. É preciso coragem para assumir a responsabilidade. Tenho um monte de amigos super inteligentes, talentosos, e que até tem condições de vida muito melhores do que a Dercy no inicio de sua vida, porém esses amigos são frouxos, medrosos, não pensam pra frente, não se arriscam na vida, se esquecem que a vida é perigosa, enfim não querem ser UM CARA DE CARA PRÁ VIDA. Me dá vontade de mandar eles tomarem NAQUELE LUGAR como a Dercy fez várias vezes nos palcos. Mas como aquele lugar é também lugar de prazer (graças a divina próstata), alguns amigos meus irão adorar que eu mande-os tomar LÁ. Tenho amigos que são viados e sabem que o caralho é bom, entretanto, tem medo de assumir, pois temem serem condenados por Deus, pela igreja, pela sociedade, diabo, etc. Eu sempre falo, estamos no século 21, e nenhuma condenação há para aqueles que estão em Cristo Jesus (um dos caras que mais se arriscou em prol dos discriminados pela idéia de pecado mitológico sacerdotal). Morreu na cruz porque era contra a idéia de pecado (manipulação, inserção de culpa e medo dos mais fracos) Que tal dá uma lida no ANTICRISTO de Nietzsche? Vida de santidade é vida de autenticidade, portanto, seja você mesmo e não se esqueça que O SER PRECISA SER. Pensei em até recomendar a leitura de SER E TEMPO (Sein und Zeit) de Heidegger, mas desisti, acho que muitos não vão entender porra nenhuma dessa obra sobre o sentido do ser. É preciso tempo para amadurecer a mente e coragem para encarar esse tijolo monumental.


Eu, e um montão de filhos (as) de pastores, crescemos ouvindo que precisamos ser exemplos, temos que dar bom testemunho, ter uma vida santa, relacionamento padrão, etc. Isso é puro discurso de castração, carga pesada e ridícula para com um ser humano. O maior exemplo, o maior testemunho, a verdadeira santidade e vida com Deus, consiste, em exercemos nossa singularidade, nossa subjetividade, nosso jeito de ser. Não devemos estar preocupados se somos filhos de pastores (a) ou de advogados, dentistas, ginecologistas, etc, aliás, não tivemos culpa de nascer fruto de um transa entre um pastor e outra mulher. Viemos ao mundo e estamos ai, para caminharmos do nosso jeito, fazendo a diferença do nosso jeito. Somos diferentes não porque somos melhores do que os outros, mas porque somos únicos. Somos luz e trevas, temos várias vidas em uma, algumas em maior atividade, outras estão adormecidas à espera de uma erupção.
Eu já assumi há 2 anos atrás que sou ser humano, e sou MERDA E MEGA, sou tudo e nada como acentuava Pascal. Às vezes sou músico, às vezes metido a teólogo, filosófo, poeta, compositor, arranjador, (arranjo encrencas de vezes em quando), herege, curto ouvir Varèse (as vezes), um teólogo batista me chamou de vaga-lume e de curioso, pois gosto de fuçar para ver o que há debaixo das pedras. Adorei ser chamado de JOEVAGALUME. Por isso ressalto que ainda há vagas para aqueles que desejam se arriscar e investigar mais. A morte está tão próxima, por isso não devemos temer a vida escreveu Nietzsche. Há vagas para aqueles que gostam de pecar. Por isso assumi que sou JOE HAMARTIANO. Adoro acertar e errar e não to nem aí para o que pensam de mim. FODAM-SE. Sou uma coisa e outra, mas procuro no fundo no fundo ser apenas JOE e suas variantes: BLACK, SABUGÓIDE, KAMASUTRIANO, BATISTA, ADVENTISTA que adora carne de porco e sabugar no sábado, PENTECOSTAL que estuda muitas línguas mas fala joiês, STBSBniano, UFRJniano, berliniano, PRESBITERIANO, presbítero júnior, etc...


Independente da maneira como se fala, do estilo de comunicação de cada um, o mais importante é a pureza e a personalidade de cada um. Como dizia Gandhi: quanto mais puro o coração, mais perto ele estará de Deus. Jesus exaltou a fenomenologia da pureza infantil ao dizer: Adultos, marmanjos! Se vocês não voltarem a serem crianças, não entrarão no reino de Deus, mas vão bater com a cara na porta. A criança impõe seriedade enquanto brinca, ou seja, ela brinca com seriedade. Todo bom bate papo deve conjugar uma porção de seriedade e uma pitada de sacanagem. Todo sujeito que almeja servir a Deus, deve buscar a santidade e aquela unção da malandragem. Deve ser santo e safado, tímido e ousado, não tem como fugir dessa realidade, pois o reino de Deus também contém HAMARTIA e diversão também. Nesse reino do SAGRADO há dores e prazeres terrestres (carnais de preferência com direito a pele com pele, olho no olho e em outras coisas também) porque não conheço os prazeres de Júpiter nem de Saturno, nem tampouco os tesões de outras galáxias, nem de outros universos ..se é que existe essa possibilidade (teoria dos pluri-universos). Todo o prazer e dor do homem é também prazer e dor de Deus. Aconselho uma leitura prazerosa de ARQUEOLOGIA DOS PRAZERES de Fernando Santoro (Prof UFRJ).


Como fiz aconselhamento pastoral com um poeta sinistrasso, aconselho também a analisarem tudo e reter o que é bom como dizia São Paulo, sempre lembrando que o que é bom e ruim é de cunho subjetivo podendo ser coletivo também (onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome =concordância/foco, eu o bem/bom, estarei presente de forma obcessiva e o mal/mau de forma recessiva, ou vice-versa dependendo do grupo); aconselho a pensar e repensar tudo o que você diz, seus efeitos e desdobramentos, exceto se você tiver a habilidade de premeditar e visualisar os efeitos antecipadamente, como é o caso de algumas mentes iluminadas. Dercy era querida e iluminada, por isso creio que pelo excesso de simpatia, personalidade, carisma e de conquistas com muito suor, ela esteja numa hora dessas sendo aclamada e condecorada pelos humoristas celestiais. Deve estar no seio de Abraão...se deixar ela mama mesmo, com boca “suja” e tudo (tem cacife pra isso)... E “(D)deus” não poderá fazer nada...Deus não vai bater em mulher em pleno século ..não é bobo ... (não é mais machista como o Deus da Bíblia).
outros artigos vc encontra aki nesse blog “sagrado”.


Em postagens mais antigas (2006, 2007) encontrarás:
O DIABO É BOM DEMAIS/ ADORAÇÃO É CACHORRADA/ SACRIFÍCIO DE LOUVOR OU DE TERROR? e outros


Leia Mais textos de Joe em seu blog: joevancaitano.blogspot.com


Ah, também agradeço por ser citado em um de seus textos.


Parabéns Joevan pela liberdade que você tem!


A todos, Liberdade de Consciência!

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